terça-feira, 24 de janeiro de 2012

"É a Vida!" [24]


Como cumprir este desejo de imortalidade?

Existem imensas e variadas formas, que vão variando com a cultura, com a faixa etária e com cada um de nós...

Lifton e Olsen, psiquiatras, mencionaram no passado, cinco formas de uma pessoa satisfazer os seus desejos de imortalidade.
Referiu a componente biológica, criativa, religiosa, natural e transcendental.

O modo biológico apresenta-se como o mais simples e usual.
Um exemplo visível é a transmissão do nome de família, de geração em geração, criando uma genealogia que fará perdurar uma família e seus membros pelos tempos...

No modo criativo a pessoa faz-se simbolicamente imortal através das suas criações artísticas, dos alunos que ensina, do seu desempenho profissional...
Pode dizer-se, que ainda hoje, celebramos a imortalidade criativa de Beethoven, por exemplo, através das suas sinfonias/obras.
Já dizia Camões (ele próprio imortalizado pela obra "Os Lusíadas"): "E aqueles, que por obras valerosas/Se vão da lei da morte libertando".
De certa formas podemos dizer que quando uma pessoa oferece a outra um objecto de uso pessoal ou feito pelas próprias mãos, está a imortalizar-se de forma criativa como se dissesse à outra pessoa que sempre que olhasse para o objecto oferecido iria lembrar-se dela.

Por sua vez, no modo religioso existe a convicção de que permanecerá imortal aquele que se ligar espiritualmente a algo eterno. A religião é visto como algo importante por permitir a cada pessoa atribuir um significado à sua vida, trazendo a esperança numa vida futura.

Se inventarmos a imortalidade, através do modo natural, e se pensarmos que a natureza é algo permanente e contínuo, e nós como sendo parte dela, seremos também permanentes e simbolicamente imortais.
Cremar o corpo e lançar as cinzas à terra ou ao mar é assumir o simbolismo desta imortalidade. Outra forma poderá ser através da plantação de um árvore no local onde se colocaram as cinzas de um corpo cremado.
Pelas actividade humana que põe me risco a sobrevivência da vida na Terra, poder-se-á dizer que este modo encontra-se ameaçado.

Relativamente ao último modo, o transcendental, diz-se daqueles que apresentam total desinteresse pela morte pessoal, porque sentem já ter passado para lá da finitude da morte. Este modo passa por uma experiência psicológica, com expressão através da música ou da dança, por exemplo. Este último modo pode muitas vezes ser visto como um escape à angústia gerada pelo medo de morrer.


"É a Vida!" [23]


Temos medo de não termos vivido com intensidade...
Temos medo de que a forma como vivemos não tenha sido suficiente nem com o fulgor necessário para não cairmos no esquecimento...

Este medo fez-nos (e continua a fazer-nos) inventar uma imortalidade simbólica.
A mente humana procurou formas de se fazer imortal sabendo que somos finitos e de que não sabemos nada do que acontece quando se esgota o nosso tempo...

O facto de muitas vezes o ser humano ambicionar viver eternamente e de inventar a sua própria imortalidade, acaba por fazer com que seja criado um equilíbrio e uma vivência plena livre do medo face à morte.

O ser humano é o único ser vivo que sabe que vai morrer!
Por isso, é o único capaz de aspirar à imortalidade!

"Só aspira a não morrer aquele que sabe que morrerá!"
Daniel Serrão


"É a Vida!" [22]


Teremos nós medo de morrer ou de cair no esquecimento?


"É a Vida!" [21]


Mas o que é o medo?

O medo é uma emoção primária...
O medo é que permite ao animal criar estratégias neuronais de sobrevivência em relação aos seus predadores, levando-o a adequar o seu comportamento.
A imobilidade absoluta é um exemplo disso.

No Homem, determinada área cerebral elabora a emoção do medo a partir de percepções tidas como ameaçadoras para a vida.
Esta elaboração não surge através da aprendizagem. A primeira vez que uma criança vê uma cobra sente medo mesmo antes de ter percebido que esta poderia ser perigosa para si.

E como é que tudo isto é possível?
Diz-se que através de uma memória biológica passada que misteriosamente se transmite através do genoma (informação genética de cada indivíduo), onde este medo biológico manifesta-se pela presença de suor, aumento do batimento cardíaco, palidez e libertação de hormonas (como por exemplo a adrenalina e a serotonina).

Perante isto, o ser Humano é ainda capaz de transformar o medo biológico num medo consciente, onde é criada uma ideia abstracta de medo e dada uma forte conotação de angústia e sofrimento.