sexta-feira, 22 de junho de 2007

Um médico diferente...


Certo dia, numa aldeia muito próxima, até mais próxima do que nós conseguimos imaginar, existia um médico que era muito respeitado pelos habitantes e pelos seus pacientes. No entanto, ele impunha-se de uma maneira que fazia todos aqueles que com ele se encontravam, sentirem-se retraídos e sempre com medo de não agirem ou de não responderem como ele queria...

Na aldeia o ar encontrava-se sempre pesado porque as pessoas não eram livres para pensarem como queriam ou agir como achavam ser o melhor...pois tudo o que faziam tinha que ser às ordens do médico dado o respeito que tinham por ele.
Ele é que mandava nas vidas pessoais de cada um, pois deviam-lhe isso por tudo aquilo que ele tinha feito por eles...

Ao dizer isto, talvez fiquem a pensar que o povo não gostava dele, mas não, bem pelo contrário, apreciavam bastante o seu estatuto social (pois estava bem lá no alto) e adoravam-no porque ele sempre os salvava de tudo...
A população nem tinha que fazer nada quando estava em perigo, bastava falar com ele e tudo se resolvia...por vezes até fazia o papel do presidente da aldeia...

Até que chegou o dia em que este doutor teve que ir para a reforma...estava já bastante velho e não podia já aguentar um trabalho árduo diário...

Foi então que chegou um outro médico à aldeia…
Chamava-se Abba…
Na sua maleta de médico apenas trazia um coração que por dentro dizia amor...
Não se instalou no consultório que o esperava. Deixou apenas o contacto com todos os da aldeia e disse-lhes que caso precisassem dele era só ligarem...ele estava disponível para todos, bastava eles quererem que ele ia ao encontro deles...

Logo ao princípio todos estranharam o facto de ele só trazer na sua maleta, aquele coração tão simples e pequenino...mas logo imaginaram que ele devia era ser muito melhor que o outro médico (pois assim o esperavam) e que o resto, como era muito e sofisticado, viria mais tarde, talvez numa carruagem ou até mesmo de comboio...

Todos os aldeãos, muito sorriam para ele...pois pensavam que ele iria ser no seu modo de agir como o doutor anterior; só que melhor...e então queriam ganhar a sua simpatia para que depois os seus pedidos fossem ouvidos...

Mas não...

Abba era diferente e aos poucos eles foram entendendo que nada mais viria para além daquele coração...
Aos poucos foram percebendo que ele não iria ser como o outro doutor, nem melhor (pelo menos como eles esperavam)...

Ele era realmente diferente...
Não receitava qualquer tipo de medicamento...apenas distribuía um quadradinho do seu coração (o qual, muitos, logo depois o deitavam para o chão e o desfaziam em mil bocados) e indicava o caminho que eles poderiam seguir para se curarem...mas eles não gostavam das coisas assim, o que eles procuravam era que ele fosse como o outro doutor e que lhes tratasse dos males da alma no instante preciso e não que os obrigasse a "trabalhar" para se curarem...

Chamavam-lhe de fraco e de impostor...que não era um médico de verdade nem que trazia as curas para os seus males...não lhes fazia plim plim plim aos problemas da vida...e isso eles detestavam…

No entanto existia um grupo de aldeãos que não pensava como todos os outros...
Era um grupo que estava aberto às novidades, e o facto de aquele médico ser diferente, fê-los querer entender o seu modo de agir e conhecê-lo melhor...
Perceberam que a única maneira de cada um se curar é cada um procurar a sua cura, nunca esperando que alguém a dê...
Por vezes, até existiam males que não se viam, e que a única maneira de os procurar para, futuramente, os curar era no silêncio...
Eles foram descobrindo que para se ter a felicidade cada um tem que se mexer e não ficar num cantinho sentado...para se ser feliz cada um tem que buscar o outro e viver com o outro...viver em comunidade e em constante encontro com o outro...
Por vezes também lhes foi difícil entender certos gestos de Abba, mas foram pacientes e aos poucos foram descobrindo o que de belo cada gesto seu trazia...


Estes foram os que sobraram para contar a história…eles foram os que fizeram com que Abba não morresse...eles foram os que foram fiéis...
Também eu quero ser como eles, e confiar neste “médico” Abba...!