segunda-feira, 30 de março de 2009

Na Seara



Pequenina semente...
Frágil semente...
Receosa semente que vai na sacola do seu semeador...

Saiu do estábulo...
Saiu da sua certeza, do seu cantinho...
Saiu do seguro de ver os raios de sol entrar e aquecer todos os dias, sempre da mesma maneira...

O semeador coloca a sua mão dentro da sua sacola...
Não escolhe...
É um semeador que acredita no poder e beleza de todas as suas sementes...

Atira fora...
Não prende...
Liberta...
Umas caem aqui, outras acolá e outras ainda mais ao longe...

Todo o espaço é espaço...

A terra aos poucos vai envolvendo toda e cada uma das sementes...

O sol aquece a terra, e algumas das sementes são preguiçosas...
Outras mais receosas...
Outras arriscadas...

O medo de morrer...

Aos poucos algumas vão espreitando...

Lá em cima o sol abraça cada uma com os seus raios...

Confiança...
Esperança...

Aos poucos vão crescendo, crescendo, germinando, endireitando, embaladas pelo vento...

Morrem em terra...
E agora vivem, são fruto...

O semeador acolhe cada uma...
Transforma-as em pão...

Uma pequena semente, que agora é pão...
Uma pequena semente que antes era apenas uma semente e que agora é alimento...

Desinstalou-se...
Germinou...

Campos cheios de trigo, campos dourados...
Mesas cheias de pão, mesas cheias...


"Se o grão de trigo,
Não morrer na terra
É impossível,
Que nasça fruto.
Aquele que dá,
A sua vida aos outros
Terá sempre o Senhor"



Meu Semeador...
Tu que tornas os campos belos...

Tu que acreditas sempre...

Tu que libertas e convidas a germinar...


Ajuda-me todos os dias a morrer um bocadinho

Ajuda-me a espreitar todos os dias mais um bocadinho por cima da terra...


Agradeço-Te tanto a semente lançada...

Os raios de sol podem no início parecer grandes de mais para uma semente tão pequenina...

Mas logo deixa de ter importância quando se descobre o conforto e a alegria de se ser iluminado...


Obrigada Meu Semeador...

Admiro-Te tanto!


Como tudo se torna tão bonito quando pões a Tua mão...


segunda-feira, 23 de março de 2009

Na Cruz



Por vezes pensar num "fim" assusta...
Mas mais assusta, pensar-se num "fim" mais forte que a própria vida, e que termine com esta ao mesmo tempo que é dado o último suspiro...

Jesus foi crucificado, mas não se foi...

Ficou...

A vida foi vivida com tal intensidade e dádiva, que morreu o corpo, mas ele ficou "partilhado" por todos aqueles em que tocou...

Por todos aqueles em que tocou com as palavras de quem saboreia a vida...
Por todos aqueles em que tocou com os gestos de quem não se guarda para si...
Por todos aqueles em que tocou com o olhar meigo de quem Ama...

Ficou de tal forma que ainda hoje podemos guarda-lo connosco...

Aprecio sem dúvida, a sua força, a sua coragem, a sua confiança e a sua firmeza com que caminhava...
Não era um homem mole, adormecido, e levado pelas mares... ele caminhava sobre tudo isso...

Conseguiu no meio de muitas multidões, encontrar o verdadeiro sentido...
Conseguiu ser diferente no meio dos diferentes, conseguiu atrever-se para que muitas outras vidas o pudessem fazer também...

A sua morte foi mais uma prova de que não jogava com a vida...
Foi sinal de que levava tudo isto com seriedade, porque o que é sério não precisa de ser coisa dos aborrecidos.
Levar a vida com seriedade era dar-lhe importância...

Invejo-o saudavelmente...
Consegue provocar-me e fazer-me dessa forma correr atrás de dele...
Consegue cativar-me...

É como um chupa que a criança deseja apanhar para lhe provar o sabor, e que depois vai passando de boca em boca para que todos o provem também, para lhes mostrar algo delicioso que descobriu...


Papá, diz ao Jesus que o estimo muito...
Não tivemos o prazer de nos conhecermos pessoalmente, vivemos em épocas diferentes, mas ele soube tão bem trazer-Te com ele...

Deves estar babadinho...

Gostava de ter estado com ele, de lhe ter tocado as mãos e de conversar sobre muitas coisas, mas sei que certamente teria sido como muitos dos seus amigos.

Sou mole Papá, sabes disso...

Procuro a minha firmeza com Jesus, procuro-a contigo Papá...

Procuro ser mais arriscada...

Procuro ser corajosa como Jesus, na construção do teu Reino, Reino de Amor...
Procuro despedaçar o medo com a força daquilo em que acredito...

Procuro que sejas grande em mim Papá e que desta forma quando chegar o fim, desfaça-se o corpo e eu voe por aqueles em que toquei...

Obrigada Papá...

E coloca em mim um mais, para que exista positividade em todos os meus gestos, em toda a minha maneira de ser, para que eu seja uma coisa boa a acontecer na vida dos outros...

Não me deixes ser vencida, e ajuda-me a vencer Ser!



sexta-feira, 20 de março de 2009

O prazer...



Um dia, durante uma aula, um professor meu, por outras palavras, disse que "ser cristão, não é o mesmo que viver uma vida sem prazeres. Que ser cristão é precisamente o contrário e que implica prazer. O prazer não é um pecado."

Deus quer que sejamos felizes, mais do que qualquer outra coisa, e sabe que isso é já um prazer...
Deus quer que tenhamos prazer por todos os dias, quer que tenhamos motivos de alegria, motivos para festejar...

Jesus não terá tido uma vida de prazer?

O prazer é algo bom...
Sentir prazer por viver, sentir prazer por poder abraçar alguém, sentir prazer por um bom prato, sentir prazer por respirar, sentir prazer em construir um caminho...

Deus não quer ninguém triste, ninguém sacrificado...

Deus só nos segreda com a sua sabedoria para optarmos por prazeres que durem, prazeres que não nos tornem tristes, prazeres que nos façam crescer, prazeres que nos façam sorrir, prazeres que nos façam felizes, prazeres que nos encham verdadeiramente o coração...



Obrigada Papá!
É um prazer a cada dia ir-Te conhecendo...

É um prazer ter com quem partilhar-Te...

É um prazer viver Contigo...

É um prazer Amar e ser Feliz assim...

Obrigada...

E olha... muito prazer!!



Faz a viajem a voar...

A vida é um prazer...

terça-feira, 17 de março de 2009

No Templo


Momento tão bom Contigo na montanha...
Brisa suave...

O poder que tens de tornar tudo novo, tudo motivo de encanto...
Tudo encanto...

Olho para o templo...
Paredes frias...
Pedra...
Dureza...
E uma firmeza enganadora...

Dentro estão os vendedores...
A Tua casa não é assim...

A vontade de chicotear...
A vontade de varrer...

Levanto poeiras...
E desta vez não as quero levantar apenas, quero mais do que isso...
Muitas vezes, a tentação de esconder para baixo do tapete, mas não, não quero esconder mais, não desejo ser engano para mim mesma...

Preocupar-me em limpar...

Limpar, renovar, renascer...
Se preciso, mudar tudo de lugar...
Sentir uma nova esperança, um novo sorriso, um novo acreditar...

Acreditar...
Agir...
Transformar...
Ser...

A coragem de por tudo para fora e tornar o templo num espaço acolhedor e cheio de lume...
Ser verdadeiramente Tua casa...

Resistir aos vendedores...
Chicotear...
Atirar fora...

Sem medo...

Na certeza de que só assim faz sentido...


Oh Papá...

És algo encantador...

Olho para Ti e vejo como sou tantas vezes pedra...

Olho para Ti e lembro-me de como tantas vezes permito que no teu lugar estejam os vendedores...

Olho para Ti e acredito no poder de destruir este templo e de o reconstruir em 3dias...

Olho para Ti e desejo ser teu reflexo...

Amar sim...

Deixar que vivas em mim...

Que bom!


Ajuda-me a chicotear...
FORAAAAA!!!


quinta-feira, 12 de março de 2009

O garfo e a faca


Hoje relembrei um momento passado...

Enquanto brincava com o garfo nas mãos, veio-me à lembrança, uma altura, em que vi-a nos talheres, mais propriamente no garfo e na faca, dois amantes dançantes...

O garfo, era uma dama muito fina, com um corpo firme, tapado por um vestido elegante e um cabelo comprido e liso.

A faca, por sua vez, era um cavalheiro, de fato preto e elegante, e de camisa branca onde se podia ver o seu laço. O seu cabelo era penteado para o lado...

Os dois dançavam contentes, pela pista de dança (mesa), que proporcionalmente aos seus tamanhos era algo gigante...

O garfo girava, girava e não parava, agarrada aos braços forte da faca.
Durante a dança a faca inclinava o garfo para trás ficando este apenas estendido por um braço, que com um ar muito elegante mantinha o garfo bem firme.





Acho que normalmente dançavam valsas, danças sem muito movimento de anca, dado que eles não eram de plástico...

Era uma viagem pela imaginação...


segunda-feira, 9 de março de 2009

Na Montanha


Fui para a montanha...

Cheiros de pureza...
Um ar puro...

Escutei-Te Papá durante todos estes dias no deserto...
Sei que umas vezes melhor, outras vezes pior, mas no silêncio ia procurando por Ti...

Aquele silêncio que fala...

Sabes, muitas vezes não foi fácil escutar-Te, por vezes parecia que magoava (e se calhar magoava mesmo)...
Era dor de quem se endireita... dor do distorcer das varas... a dor do crescer...

Foste falando e em silêncio fui Te escutando...

O barro ia ficando cada dia mais bonito, por entre os teus dedos...
Ganhava forma, ganhava sentido, e eu a olhar, sentia-me como uma criança que fica maravilhada ao ver o seu Papá a mostrar algo novo e muito belo...

Agora é a altura de dançar para Ti...
É a altura de Te dizer o quanto me sinto grata por tudo o que contigo vou vivendo...

Vou rodopiando por entre as flores...
Ao longe vejo as casinhas, em baixo, e as nuvens que vão passando devagar por cima delas...

É preciso subir ao monte, para ver...
É preciso subir ao monte para entender...
É preciso subir ao monte para conhecermos a nossa pequenez e o quanto grande Tu és...
É preciso subir ao monte para tocar o céu...

Sentei-me numa rocha aquecida pelo sol...
E comecei...

Oh Papá que beleza...
Sinto-me olhada, admirada por Ti...

Não consigo não saltar de alegria por tudo o que tocas em mim, por tudo o que transfiguras e vestes de branco em mim...

Como és importante para mim...

Como foi que tudo aconteceu?

Não sei...

Já nem sei bem...

Sei que aos poucos fui chegando, fui querendo, fui Te querendo, fui Te abraçando...

Foi tudo crescendo pouco a pouco...

Foi tudo brotando com a Tua simplicidade no meio das minhas incertezas e dúvidas mil....

Como seria eu sem Ti Papá?

Certamente alguém rico de nada, poderoso de tudo e triste, muito triste...

Contigo sou folha ao vento...

Sou feliz...

Como me fazes feliz...

Guardo-Te...

Quero-Te em mim, mas não para mim...

És bom e grande demais para seres algo só meu...

Quero-Te como és, e não como eu sou...

Quero-Te assim...

Novidade...

Encanto...

Alegria...

Especial...



Gritei... e a montanha concordou comigo... gritou também...
Eu disse especial... e ela respondeu especial, especial, especial...

O eco...
Aquilo que gostava de ser de Ti...
Eco...

Amor... amor, amor, amor...

E a montanha continuava a concordar comigo....


sexta-feira, 6 de março de 2009

quarta-feira, 4 de março de 2009

Somos Um




Coisas novas vais tu ver
mas depois vais dizer
'não percebi'.
No teu jovem coração,
vives na confusão:
'já compreendi'.

Hás-de sobreviver,
pois apoio tu vais ter.
Os entraves nós vamos vencer.
Ao teu lado estarei,
que orgulho sentirei.
E a força está em sermos um.


Filha de um rei nasci,

meu destino eu vi.
Mas quem sou eu?
Confiar no coração,
buscar paz e razão,
ah quem sou eu?

Filha tu vais crescer,
maus momentos hás-de ter.
Buscando a paz e a verdade...
Sempre há soluções
nas piores situações,
temos força porque somos um.

Somos um, tu e eu,
como a terra e o céu.
O sol trás a felicidade!
Este reino é meu
e um dia será teu.
E a força está em sermos um.


Enquanto viveres aqui,

vai ser assim....
Hás-de compreender um dia.



domingo, 1 de março de 2009

No Deserto



O deserto...
A necessidade de 40 dias...
A necessidade de um novo começo...



Está muito calor.
É um calor seco, onde sinto o ar sair mas muito pouco a entrar.
O sol queima e aos poucos sinto-me a sufocar.

No princípio ainda estava fácil, porque me sentia embalada no caminhar de um pé enterrado aqui, outro acolá, achava engraçado, mas agora os pés doem e sinto a necessidade de encontrar o mais depressa possível um sítio que me dê firmeza ao caminhar, apesar de saber que aqui não vou encontrar isso, aqui tudo sai do lugar, aqui tudo não tem estabilidade, tudo deixa de ser certo e seguro.

E nasce o medo de um solo desconhecido a cada passo.

O vento dança pela minha face. É tão agradável.
É uma força, é uma vontade nova, é algo que torna estes 40 dias em algo único e imaginável...
Todos os dias me surpreende com uma nova dança...

É tão bom estar aqui, assim, pousada nas palmas das Tuas mãos de tamanha ternura. Juntamente com o vento Tu sopras sobre mim. Fecho os olhos e deixo os cabelos voarem.

De vez em quando algumas miragens. Vozes que por momentos me parecem vir salvar de toda esta sede que tenho, vozes que me indicam um caminho para um local mais fresco.

Caminho, as pernas já doem, e continuo até me aproximar mais da água que brilha ao longe para mim. Estou cega pelas poeiras de areia que de momentos a momentos se levantam, e não me dou conta de que a distância entre mim e a água, mesmo depois de todo o caminhar, mantém-se igual desde o primeiro olhar. Não é água, não é nada, e fico cansada e apesar de tudo desanimada.

Volto para as Tuas mãos. Estou ofegante. Fui tentada no desespero. Sinto-me infiel.

Voltas a soprar sobre mim, e aos poucos as poeiras saem dos meus olhos.

Tu prometeste, Tu prometes e continuas a prometer que a palma das Tuas mãos são melhores que qualquer jarro de água. Que se confiar matarei toda e qualquer sede. Mas sou tão hesitante. Não vejo água, e corro para o primeiro brilho que se assemelhe a uma gota de água. A sede aumentou.

Aos poucos vou conhecendo uma gota que apesar de não brilhar, mantém toda a sua simplicidade, numa preciosidade enorme.

Está um silêncio tão bom.
O vento esse continua a soprar, a dançar em volta de mim num rodopio constante e eu fico ali, assim, aninhada, de pernas cruzadas, deitada de costas para cima, de costas para baixo nas Tuas mãos. A minha inquietude não me permite estar apenas numa só posição.

Vejo o sol ao nascer, vejo o sol ao anoitecer.
Dias que passam e eu só quero estar naquele silêncio.

Todos os dias o céu pinta-se de tons diferentes. Ao longe vejo tons de rosa, azuis, arroxeados, de um dia a terminar. Estou cansada de estes dias todos a caminhar, tantas vezes a necessidade de desistir e de me deixar enterrar, mas ao fim de cada dia, fecho os olhos com um sorriso, aqui no deserto fico maravilhada com toda esta beleza envolvente.

Aos poucos vou me (des)habituando às dificuldades do caminhar.
Dentro de alguns dias chegarei a terra, sem duvida, mais firme.
Nessa altura já terei crescido... pelo menos 40 dias.




Olha Papá
Neste momento aqui deitada, em que me seguras a embalar, reparo no encanto dos Teus olhos.
Tens um olhar meigo, e ao mesmo tempo, forte e protector.

Quando estou cansada e desanimada, fazes-me sentir acolhida.

Quando volto ao caminho, o Teu olhar mostra o quanto acreditas em mim.

Obrigada pela Tua companhia silenciosa durante todos estes dias!

Obrigada pelo Teu sopro de vida.