segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

Saudade


É me difícil lembrar com clareza da minha infância...
Tenho ideia de momentos, sei de situações que num ou noutro momento os papás e familiares partilharam e de resto, pouco me lembro com clareza...

Guardo os momentos mais marcantes, por terem sido mais felizes ou menos felizes, sobrando apenas a lembrança por entre imagens baças...

São os momentos em que nada e tudo importa...
Quando vivemos a nossa infância somos felizes na simplicidade, choramos por termos de aprender e rimos pelo voo bailante de uma borboleta...

Tenho saudades de andar de baloiço...
Tenho saudades de usar o baloiço para tudo, menos para andar sentada... deitava-me, punha-me em pé e algumas vezes usava mesmo o estrado do baloiço para me empoleirar...
Sinto falta dessa altura em que não tinha medo de subir para o estrado de cima do baloiço, de me sentar ou de me pendurar de cabeça para baixo, que nem macaco...
Se calhar nem pensava mais de dois segundos: "E se cair?"... não me importava, queria apenas o momento e alegria de saber que o conseguia...

Nesta altura o medo é passageiro...
Sentimo-nos sempre protegidos por alguém...
Somos sempre os protegidos e acreditamos que o papão mais cedo ou mais tarde fugirá com medo de levar um tau-tau...

Tenho saudades de comer bollycaos ou bolas de berlim, de comer pão com marmelada e algumas vezes também com queijo e de beber leite achocolatado sem pensar em mais nada senão em comer e, no final de lambuzada, lamber os beiços...
Tenho saudades da minha lancheira, que umas vezes foi verde e outras vezes cor-de-rosa a imitar um "au-au"

Os Domingos de passeio...
Saudades dos Domingos em que com os manos e os papás, e às vezes com a vovó, íamos passear pelas cidades deste país...
Algumas tardes terminavam à beira da praia a ver as gaivotas pousar sobre a areia (animal que sempre me impôs respeito, com aquele olhar matador, eheheheh)...

Que saudades tenho do tempo em que me sentia livre por querer mais, ou por sonhar com algo...
Era criança, e era me dado esse direito desde nascença...
Parece que agora chegou a hora da devolução... agora, parece que já não me pertence.
E se algum dia me vêm a passear de mão dada com o sonho, dizem que o roubei, e que vivo contra as leis deste mundo...

Tenho saudades dos tempos em que me era dado o direito de acreditar que querendo, tudo era possível... saudades do tempo em que o querer era razão suficiente para conseguir...
Que contra o querer nada tinha maior autoridade...

E fica também a saudade dos tempos em que o vento batia na cara e sabia bem, assim, sem preocupações, assim, sem ombros carregados, assim, leve, muito leve...
Os tempos em que o tempo não contava e em que não tinha obrigações senão vontade...

Os tempos em que estando chuva ou vento, sol ou frio, eu me sentia livre, ainda que "presa" pelos pais...
Nessa altura, estive mais perto da liberdade, do que agora, em que mais livre dos pais, sou sufocada pelos braços de um mundo devorador...

E por hoje, despeço-me...
Na certeza de que a saudade é esperança do passado, que se projecta para o presente...
Na certeza de que a saudade é a aliança com o passado que me diz para continuar, porque virão tempos de maior saudade...

A saudade mantém-me criança...



Amanhã será dia de bollycao... e se passar por algum parque, vou andar de baloiço!!! :)


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